segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Geração beat, preciosidade para poucos. Foram os declamadores do amor levado pelos trens de carga, os poetas bêbados de 40, os amantes dos becos sem saída, e criaram para mim, minha surrealidade niilista. Tenho que agradecer a Jack Kerouac, a Neil Cassady, a Allen Ginsberg, e alguns mais pela inspiração, pela reviravolta de minha monotonia e pelas ideias flutuantes que pipocam numa mente jovem.

Aqui vai um poema do Ginsberg, retirado do livro "O uivo", um dos que me acalentam toda vez que penso em amor:

Canção

  O peso do mundo
            é o amor.
  Sob o fardo
            da solidão,
  sob o fardo
            da insatisfação
 
             o peso
o peso que carregamos
           é o amor.

  Quem poderia nega-lo?
          Em sonhos
nos toca
        o corpo,
em pensamentos
        constrói
um milagre,
        na imaginação
aflige-se
      até tornar-se
humano -

  sai para fora do coração
           ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
        é o amor,

mas nós carregamos o peso
       cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
       finalmente
temos que descansar nos braços
         do amor.

 Nenhum descanso
         sem amor,
 nenhum sono
        sem sonhos
de amor -
        esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
        ou por máquinas,
o último desejo
        é o amor
- não se pode ser amargo
        não pode ser negado
não poe ser contido
       quando negado:

o peso é demasiado

        - deve dar-se
sem nada de volta
       assim como o pensamento
é dado
         na solidão
em toda excelência
        do seu excesso.

Os corpos quentes
         brilham juntos
na escuridão,
         a mão se move
para o centro
        da carne,
a pele treme
         na felicidade
e a alma sobe
        feliz até o olho -

sim, sim,
        é isso o que
eu queria,
        eu sempre quis,
eu sempre quis
        voltar
ao corpo
        em que nasi.

San Jose, 1954

Um comentário:

  1. Se meu coração tivesse uma porta, essas palavras já estariam lá.
    Deixo elas entrarem então...
    pela minha cabeça.

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